quinta-feira, 28 de maio de 2015

Mas, afinal, qual é a solução?

Não há solução sem esforço de compreensão. A visão simplista sobre os problemas sociais faz parte do problema e não da solução. Quando se rejeita a atitude de pesquisa, a busca de um pensar crítico e reflexivo, um pensar de modo complexo a complexidade do mundo social, baseada em pesquisas empíricas sistemáticas, quando se rejeita isso, como se fosse "perda de tempo", como se fazer pesquisas a fim de ampliar o entendimento fosse falta de "realismo" ou de "pragmatismo" da vida acadêmica, gostaria de lhes dizer que isso faz parte do problema. A rejeição da pesquisa sistemática, teoricamente bem orientada, é um grave problema de falta de percepção do lugar que o saber ocupa no processo de transformação da realidade e das visões açodadas pelo imediatismo do "qual é a solução", que, na prática, é uma adesão fácil aos repertórios dados, que são parte do problema, uma vez que estão cegos para a elaboração de novos campos de perguntas, sem o que não há possibilidade de novas respostas ou "soluções", que não sejam o mais do mesmo. Sinto muito, mas sem pesquisa séria, coletiva, continuada, sistemática, não há solução para a ansiedade do "qual é a solução", ansiedade no fundo expressa o sentimento de pessimistas contumazes. No fundo, quando se cobra soluções imediatas para problemas históricos e complexos, essa cobrança ou é fruto do sentimento de impotência ou da mera ignorância, simplesmente. Um campo de soluções transformadoras não é algo que se possa desenvolver sem trabalho, como num passe de mágica. A demanda por solução rápida, imediata e sem questionamento de problemas é uma demanda por magia, por soluções mágicas, é uma projeção fantasiosa de ansiedades e angústias. E, ademais, é uma visão que não consegue perceber que solução é um bem muito raro, posto que exige muita atenção, muito trabalho, muita massa crítica. Se não há soluções, pode-se afirmar que a coletividade está trabalhando muito pouco para forjá-las. A solução é o fruto do trabalho. E não estou falando do "vamos arregaçar as mangas e fazer", pois, afinal, só somos capazes de fazer o que está informado pelo campo de problemas que alcançamos. Se vamos arregaçar as mangas e fazer de acordo com o que já conhecemos, muito provavelmente vamos reproduzir o mais do mesmo. Se colocamos uma equipe com pessoas muito práticas, muito pragmáticas, juntas para resolver problemas, elas em geral apresentam as mesmas soluções que já experimentaram antes, que é justamente o que faz parte do problema. Minha aposta é na imaginação criadora de um novo campo de problemas, para mim, isso é a solução mais pragmática, o uso da imaginação criadora, do pensamento crítico e reflexivo, da pesquisa empírica sistemática e da construção coletiva de saberes orientados para a transformação de velhos problemas e velhas soluções. Novas soluções exigem novas problematizações.

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