sábado, 28 de dezembro de 2013

Em 15 de setembro de 2007, escrevi uma nota de estudo sobre os termos cultura, subjetividade e violência. Segue abaixo sem revisão. Mas vou revisar e publicar novo texto.

O termo cultura é tão multifacetado que existem centenas de definições para ele. Pelo que temos escutado, ultimamente, houve uma quebra na correspondência que antes se fazia entre cultura, povo e território. Como se a cultura obedecesse aos limites territoriais estabelecidos por outras instâncias do saber humano, como aquelas que compõem as formas de poder, ou seja, de constante ação sobre ações, de modo que no teatro das ações humanas interpõem-se várias perguntas a respeito da legitimidade das coisas. E como em toda troca os signos se interpõem para alcançar o real, gera-se uma configuração de valores e sentimentos que, ao serem compartilhados, e acionados em contextos de interação prática, são os signos que se trocam. Com os quais fazemos aliados e derrocamos os inimigos. A cultura é um dinâmico modo de se localizar. Imprecisos como os labirintos da vida. Processo em metáfora. Moldura em transição. Mapas que orientam o sentido da existência. A cultura é o mapa, mas o mapa não é o território. A subjetividade, não é termo, é sempre meio-termo. Pois quando se trata de subjetividade, o que nos resta é torcer pela vitória do nosso time. Subjetivo é o inapreensível com o qual se faz possibilidade de comunicação se houver narrativas sobre e outro, do outro sobre nós mesmos e de nós sobre alguém. E esse alguém é um sujeito que vaga nas várias modulações do eu. A subjetividade é um conceito com o qual se designa a instância de formação do sujeito, daquilo que se busca ser de si mesmo, a busca de si, a superação que isso exige, e as frustrações inúmeras que alimentam medo e violência nas metrópoles contemporâneas. O problema da violência é um problema de falência dos modos de subjetivação humana e cultural. Sujeito é o que está em devir. Constituindo-se. Perfazendo-se. É a fuga dos processos de identificação e classificação dos sujeitos para produzi-los indivíduos, pessoas, cidadãos, quiçá, um dia, e atores. Mas a questão da subjetividade vai além, pensa-se nessas conexões que conectam várias outras, acaba articulando-se com a própria necessidade dos seres vivos se diferenciarem. Pois a diferença amplia o campo da comunicação intersubjetiva. Violência não é nem termo. Violência é o fim do uso dos termos. Acontecimento de suspensão da contextualização de práticas de sentido, práticas humanas por excelência, suspensão do conhecer, da arte, da ciência, da filosofia e da religião. Violência é a brutal instrumentalização do outro, de modo a torná-lo coisa, indefinível, apagado da memória cultural, violência é o extermínio da inteligência coletiva que guia o universo das relações de sentido. As sociedades e as culturas humanas não são precisas quanto ao seu uso, mas o campo da violência seria um quase-campo se não fosse o fato de que as experiências de violência não são narráveis, ou melhor, são inenarráveis, ou não-narráveis, e isso gera trauma, medo, amargura e frustração, que são sentimentos sociais com os quais se orientam os códigos culturais e sociais quando estão depreciados, humilhados e afundados em seu rancor. O problema do termo violência é que ele esconde o ódio, o ódio social, coletivo, de um modelo de funcionamento de sociedade que faliu na possibilidade de alçar o humano a um projeto de significado que possa agraciar a sua própria diferença e seu modo singular de tornar-se humano, sujeito, sujeito de direitos, de multiplicidades de práticas e segmentação das posições nas conjunturas onde se pisa no território dos outros sem lá ser bem-vindo. A violência é um ato de ingratidão nas relações sociais de parentesco que embasam o mundo do humano.

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