sábado, 17 de agosto de 2013

Contexto é um conceito

É interessante experimentar o que as coisas podem dizer fora de contexto. Por vezes, esquece-se que o contexto é um conceito. Há um trabalho de produção do contexto cujo resultado, enquanto produto, "o contexto", é relegado à posição de pressuposto para a análise. O que a deforma, uma vez que a análise passa pela explicitação daquilo que está pressuposto. Deste modo, as leituras externalistas sobre as relações entre poder social, conhecimento e autoridade interpretativa tendem a fazer esquecer que o poder de causalidade imputado pelo analista a qualquer um dos termos faz dos outros termos, termos redutíveis a uma instância que lhes é externa, sem que se problematize a produção da externalidade daquilo que funciona supostamente como contexto. O que as coisas podem ser fora de contexto? Essa pergunta pode ser heuristicamente mais fundamental do que o procedimento já congelado de colocar as coisas no contexto, como se este fosse uma causa do que emerge. Se há condições de existência de algo, essas condições tornam-se necessárias no processo social de produção da condição enquanto necessidade histórica, mas isso não faz da condição uma razão suficiente dos atos de sua própria delimitação, pois caso assim fosse, não haveria história. Quem fez uma excelente crítica do conceito de contexto foi Bateson e, mais recentemente, Strathern. Sobre a relação texto-contexto, ver também Derrida.

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