quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Comunicação e diferença: acercando-se do problema da crise da representação.

A compreensão da matriz cultural com a qual as pessoas operam e a compreensão da natureza da interação entre as pessoas são dois objetivos centrais para o estudo das relações sociais (Bateson, 1987). Segundo o autor, essas duas formas de compreensão produzem dois tipos de informação sobre a vida social, elaboradas na perspectiva de uma antropologia da comunicação que responde a um interesse teórico mais amplo sobre o fenômeno da comunicação. Para que se possa aprofundar a discussão sobre as entidades socioculturais, o ponto de partida é a problematização da noção de codificação. Inicialmente, é preciso atentar para o fato de que, independentemente de uma abordagem mais organicistas ou mais mentalista sobre os códigos, há uma primeira aproximação que requer a distinção entre processos intrapessoais e eventos do mundo externo e que justamente sobre essa distinção que se elabora a referenciação do conceito de codificação. O que está em questão são os modos como as informações são codificadas na relação entre cérebro ou mente de animais humanos, dependendo do ponto de vista teórico, e eventos e objetos do mundo exterior. Alguns pontos merecem destaque na relação entre informação e codificação. a) A relação entre objetos e eventos externos e processos internos do indivíduo precisa ser pensada como uma relação sistemática, o que não quer dizer que não existam elementos não sistemáticos na relação, o que alguns especialistas chamam de ruído. A decodificação das informações está em função da dimensão sistemática da relação. b) Dizer que há uma dimensão de sistema na relação entre processos internos e eventos e objetos externos é apontar para o caráter transformacional do processo de sistematização da relação. Afinal, se a relação não for preservada em sua dimensão de sistema de relação não haveria como pensar as formas por meio das quais os eventos e objetos externos são relatados pelas representações internas desses eventos e objetos enquanto elementos de processos mentais. No estudos dos animais humanos, três variações do processo de codificação tornam-se especialmente relevantes: a codificação digital, a analógica e a das figurações. A última destas três variações, a que corresponde ao que estuda a psicologia das formas, é decisiva para a abordagem teórica da vida social. Se não houvesse processos de figuração os animais humanos não poderiam pensar sobre objetos concretos. Pelo uso da linguagem, as relações entre eventos e objetos exteriores podem ser percebidas, todavia, elas não são apenas percebidas enquanto relações entre relações, pois há uma derivação da percepção baseada nas formas específicas de certas relações que permitem aos humanos perceber "coisas". Trata-se de um processo de sumarização, do uso do sumário, como discute também Cicourel em vários textos, dialogando com a etnometodologia e as ciências cognitivas. Ocorre que pensar em termos de "coisas" é um processo secundário, é o uso de formas mentais que possibilita essa incrustação de coisas no processo mental. A construção de modelos mentais que sumarizam relações entre relações como relação entre coisas é um passo decisivo na elaboração de um ordenamento das práticas de sentido dos animais humanos. O conhecimento dos eventos e objetos externos são derivações das relações entre eles, todavia, a percepção humana desloca a relação no sentido de uma relação entre si e os objetos e eventos exteriores. Esse deslocamento é a base do tipo de figuração que os humanos realizam para apreenderem relações de relações como coisas e numa perspectiva mais ampla de um estado de coisas, correspondência esta, entre percepção e estado de coisas, que será o grande nó górdio da metafísica ocidental até Wittgenstein: o problema da correspondência entre pensamento e mundo, o problema da representação e de sua adequação.

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