domingo, 28 de julho de 2013

O que é a experiência?

A experiência é palavra solta ao vento. A linha tensa, retesada, que suporta o objeto da experiência é um elemento cortante. Não basta sentir a possibilidade de uma quebra, a chance de que o objeto da experiência despenque do alto onde a firmeza é quase um evento incrível. Um certo peso recobre a mão. Uma certa leveza dirigível parece preconizar que tudo não passa de uma brincadeira. As lufadas se lançam contra tudo isso, indiferentes à existência do objeto, movendo-se por si mesmas, cumprindo suas próprias rotações, mas é como se tudo fosse cosmológica e intencionalmente posto para nossa experiência do objeto flutuante. O que esvoaça em nós nesse objeto frágil que paira, por vezes inerte, outrora deitado no abraço, como ferramenta de trabalho, depois de tudo, como ação livre, desprendido das mãos que o manipularam como mãos de artesão, e que, por vezes, da inércia absoluta, com seu peso e sua tensão, explode, joga-se no abismo e mergulha de testa, precipitando a frágil estrutura do objeto da experiência na mais dura dinâmica da coisa em si, na pedra, no asfalto, no chão duro, na terra batida ou simplesmente nas areias das dunas que de tão móveis semelham cortar a estrutura ao meio. E nesse ir e vir do objeto lançado ao vento, tal qual palavra de profecia, quem é ponta e quem é linha? O limite deixa de ser a ligação entre dois pontos. Nem o sujeito da experiência, nem o objeto que teima em lhe negar a precedência podem nos dizer algo sobre a tensão, quase musical, e sempre cortante, da experiência enquanto gesto de auto-posição do próprio limite. E o que desponta no limite, portando em si mesmo, causando a própria potência desse limite? Ou não haveria nada a causar, a causer, talvez, mas sem princípio, sem axioma, o único a priori, portanto, sendo o próprio limite cortante, e o acontecer do limite que se elabora pelo seu gesto. Seja o gesto do limite que explode nossa consciência, ou do gesto do limite que jamais consegue preceder a Lei, mas foge dela, acossado, em desespero de língua, de fuga de código, ou o gesto dos limites da nossa inescapável linguagem. O que faz do riso um elemento do sacrifício do eu, ou do êxtase um elemento de dispersão do sujeito, ou da comunicação um modo de aparência que nada manifesta, que não esconde, que não oculta nenhum conteúdo, mas apenas os mecanismos de ocultamento, enfim, o que seria desse riso quando se nos dirige, como um grito, como uma voz de recusa, um apelo de morte contra o absoluto, contra aquilo que nos precederia desde o sempre? Apenas contestação, sem escândalo, nem subversão? "La transgression est un geste qui concerne la limite; c'est là, en cette minceur de la ligne, que se manifeste l'éclair de son passage, mais peut-être aussi sa trajectoire en sa totalité, son origine même. Le trai qu'elle croise pourrait bien être tout son espace" (Michel Foucault).

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