quarta-feira, 5 de junho de 2013

POR UM NOVO REGIME DA DESCRIÇÃO ETNOGRÁFICA

O esforço coletivo de busca por um novo regime de descrições no âmbito da produção do conhecimento etnográfico, tanto na antropologia quanto na sociologia, possui como ponto de partida um problema que é talvez o mais interessante para desencadear o debate sobre isso. A etnografia enquanto descrição de uma realidade coletiva parte, classicamente, do pressuposto de que a realidade a ser descrita preexiste à ação científica de descrevê-la. Se não houvesse uma realidade preexistente, não haveria descrição. Ocorre que a descrição etnográfica, enquanto conduta teoricamente orientada, não pode esquecer que a tarefa principal é a explicitação do que está pressuposto de modo implícito, ocultando o trabalho que a "entidade" efetua para se atualizar enquanto uma sistema de delimitação empírico dado. Ou seja, a descrição etnográfica precisa adotar como princípio a dispersão daquilo que garante a objetividade da entidade a ser descrita. Por isso, no sentido pós-estruturalista da teoria social contemporânea, a descrição etnográfica é um tipo de ficção controlada, pois nem a ciência, nem a arte, estão na descrição da realidade imbuídas de designar a verdade como correspondência realista entre pensamento e mundo social, a verdade é uma critério válido para a prática que a institui como critério de sua própria verdade, a observação não é externa, no limite, não há sequer observação, mas criação de limites possíveis, de um "etno" menor, naquilo que há de impensável para a doxa nativa e que a própria paradoxa nativa, ao implicar o pesquisador enquanto situação de campo, se oferece para a explicitação das relações sociais que produzem as descrições etnográficas como descrições intensivas.

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